Por Axel Vique

Théméricourt, França — O encontro internacional Peoples for Forests teve início com uma jornada vibrante e poderosa que reuniu mais de 130 representantes de comunidades locais, ativistas, organizações aliadas e defensores de florestas de todos os continentes. Durante o primeiro dia, foi reafirmada a mensagem: os povos que habitam as florestas são os principais defensores de sua conservação, e a justiça climática só será possível se eles estiverem no centro das decisões.

Organizado por uma coalizão formada por Mídia NINJA, Fern, Bless Foundation, Centro Indígena de Ação Integral, IDEF, Clímax e TINTA, Peoples for Forests se apresenta como um espaço de conexão, ação política e cura coletiva em defesa das florestas.

Foto: Katie Mähler

Cerimônia de abertura: espiritualidade e conexão entre povos

A jornada começou com uma cerimônia espiritual guiada por cantos, línguas originárias e saberes ancestrais, com a voz e presença de lideranças brasileiras como Jozileia Kaingang, co-fundadora da Articulação Nacional de Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), Karla Martins, co-fundadora da Mídia NINJA, e Aderbal Ashogun, coordenador da Rede Afroambiental.

“Este território também é nossa mãe. É onde estão meus pés, onde o sol se esconde, onde o sol nasce, onde nasce o vento, onde nasce a água. Vamos pedir aos ancestrais deste território que compreendam a luz para iniciar nosso espaço”, expressou Lucía Ixchiú, dos Festivais Solidários e BILM, durante a abertura.

Um dos momentos mais emocionantes foi a leitura do último texto escrito por Marielle Ramires, idealizadora do evento e fundadora da Mídia NINJA, falecida recentemente, que sonhou com um espaço onde os povos guardiões das florestas pudessem construir pontes a partir do cuidado, da memória e da ação política.


Durante o primeiro dia, foram realizados dois espaços de diálogo principais que marcaram o tom político, espiritual e estratégico do evento:

As culturas como cura para a crise mundial

Essa plenária abriu o debate sobre como as culturas indígenas e tradicionais oferecem caminhos concretos para curar o planeta e as relações rompidas pelo colonialismo, extrativismo e a perda do sentido comunitário.

“Uma das coisas que sabemos é que, se não formos todos livres, ninguém será livre. Temos que permanecer unidos e lutar pela justiça coletiva”, afirmou Leo Cerda.

“A força de todos nós juntos, acreditando que podemos fazer a diferença e pensar na sociedade do futuro, é o que nos fará vencer essa batalha. Não é fácil, e nos disseram que não venceríamos. Isso é mentira. Podemos vencer, só podemos construir um futuro”, afirmou Karla Martins.

“Eu venho de um território andino, sou de uma comunidade quíchua chamada Occopata, terra das batatas nativas. Para este encontro, consegui trazer um pedaço da comunidade: as batatas, o chuño, as folhas de coca. Foi necessário esse momento de respirar, de nos conectarmos”, compartilhou Soledad Secca Noa.

Motores da deflorestação

Defensoras, defensores, povos indígenas e comunidades debateram as causas estruturais da desflorestação: expansão agroindustrial, projetos extrativistas, falta de reconhecimento territorial e financiamento que não chega às bases. As participantes narraram também processos de resistência, vitórias, aprendizados intergeracionais e desafios atuais. Nesse espaço, reafirmou-se a necessidade de construir alianças transnacionais entre povos para enfrentar ameaças globais com respostas de baixo para cima.

“Temos que voltar a nos conectar. Precisamos encontrar soluções sustentáveis que possam salvar essa lacuna que criamos com a expansão de produtos agroindustriais que está colocando nossas florestas de joelhos para a mineração em paisagens florestais que envenenou muitas águas superficiais e subterrâneas”, comentou Madeleine Ngeunga.

“Como falamos com pessoas que estão destruindo florestas e pessoas? Como falamos com pessoas que foram traficadas e continuam sendo tratadas como inferiores? Precisamos enxergar a COP30 com uma lente crítica e abrir os olhos, porque muitas vidas ainda estão em risco”, afirmou Selma dos Santos.

Foto: Katie Mähler

Um chamado global

Peoples for Forests nasce do entendimento de que as florestas não podem ser protegidas sem as comunidades que as habitam. A terra está viva, e protegê-la exige memória, cura e transformação política. Durante os dias restantes, o encontro continuará aprofundando o sentir de seus participantes, reforçando o objetivo de ser um espaço de construção, de novos caminhos, onde as culturas, os saberes e as lutas comunitárias sejam o centro.

Confira mais informações em https://peoplesforforests.org/